Sonrisas de Bombay

viernes, 10 de febrero de 2012

Vivir en FUKUSHIMA

Viver em Fukushima (Marika Yoshida): Portuguese Translation

Original Japanese text English translation French translation


Escrevi a nota abaixo no dia 12 de Janeiro, exactamente 10 meses após a catástrofe da central nuclear. Inicialmente, partilhei-a exclusivamente com um círculo restrito de pessoas. Mas, posteriormente, muitas pessoas fizeram-me saber que gostariam que ela fosse mais amplamente divulgada. Decidi, então, editá-la na forma original e torná-la acessível a todos.
Optei por preservar a forma de nota, porque ela reflecte sentimentos pessoais únicos, que eu senti especificamente naquele momento. Estava, no entanto, hesitante relativamente a uma publicação nas redes sociais.
No que concerne à publicação desta nota, eu gostaria de salientar alguns aspectos:
Este é um documento mediante o qual transmito os meus sentimentos pessoais. Como referi no texto, não tenho qualquer intenção de representar algo ou alguém.
Eu moro em Fukushima, mas numa área com um nível de radioactividade relativamente baixo. Estou certa de que há muitas pessoas que optaram ou foram obrigadas a optar por ficar e viver em zonas expostas a maiores perigos. Ao ler esta nota, algumas pessoas podem sentir-se ofendidas, porque podem pensar que eu vivo numa área “mais segura” e que a minha “reacção é excessiva”. Nesse caso, peço-lhes para simplesmente eliminarem a minha nota.
Pouco importa que as pessoas digam que a minha região é “segura”, estou com medo, com raiva e preocupada. Provavelmente não é apenas uma questão de nível de radioactividade, pois o meu medo, a minha raiva e as minhas inquietações advêm da circunstância de as informações fornecidas com os “factos” terem sido controversas e alteradas várias vezes. Sentimentos sinceros existem no meu espírito, pouco importa que as pessoas os neguem. Acredito que somente depois de reconhecer esses sentimentos podemos superar e sublimar essa experiência.
….
Viver em Fukushima
A minha vida em Fukushima
Viver em Fukushima, para mim

Significa nunca mais abrir a janela e respirar profundamente todas as manhãs
Significa nunca mais secar a roupa fora
Significa deitar ao lixo os legumes cultivados no nosso jardim
Significa sentir o coração apertado ao ver a minha filha sair de casa com uma máscara e um dosímetro, sem fazer perguntas

Significa não poder tocar na neve branca
Significa estar, às vezes, um pouco irritada quando ouço o slogan “Coragem, Fukushima”
Significa perceber que respiro superficialmente
Significa dizer a alguém que “vivo em Fukushima” e ter de acrescentar, como que para justificar, “mas a radioactividade da nossa zona é baixa”
Significa que agora existe 福島 (Fukushima em caracteres chineses) e FUKUSHIMA

Significa que quando alguém nos diz para “ficar” eu sinto vontade de dizer “O que pensa das nossas vidas?”. Quando alguém nos diz para “fugir”, sinto vontade de dizer “Não diga isso tão facilmente! Não é assim tão simples!”
Significa preocupar-me com a minha filha de 6 anos, que provavelmente não vai poder casar-se um dia
Significa ter o sentimento de ter abandonado as minhas responsabilidades, por ter escolhido viver em Fukushima
Significa ter, diariamente, a profunda consciência de que a nossa vida quotidiana é como uma “frágil placa de gelo”, em que a “segurança” depende dos sacrifícios e esforços dos outros
Significa pensar todas as noites que poderia deixar esta casa amanhã e partir para longe
Significa , no entanto, que rezo todas as noites para que possamos viver nesta casa amanhã
Mas, mais do que tudo, rezo pela saúde e felicidade da minha filha
Não posso esquecer aquele fumo preto
Apesar de tudo, quero que as pessoas compreendam que vivemos felizes, com mais ou menos alegria
Todos os dias, sinto raiva
Todos os dias, rezo

Não tenho qualquer intenção de representar Fukushima. Isto é o que viver em Fukushima significa para mim e só para mim
Hoje é o décimo aniversário de Fukushima

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